quinta-feira, 17 de novembro de 2016

(A)(manhã)(céu)



Faltava um pouco de tinta branca na oca

Faltava um pouco de azul no céu branco

Mas o dia amanheceu cheio de paz...

Ali, onde se misturavam o suor e o orvalho da manhã

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

As cinco linguagens do amor numa corrida

                  Acordei com o gato mordendo meu tornozelo e caminhando pela cama, a ronronar perto de mim. A mordida doeu um pouco, mas acordar com o carinho dele era melhor que com o despertador.

Estava terminando de comer os ovos com queijo e recebi mensagem do meu primo, que ainda não havia ido correr e topou ir comigo. Combinamos de encontrar no portão 5 do parque Ibirapuera. Já fiquei mais animada porque teria companhia.

Cheguei na ruazinha onde quase sempre estacionamos, e a princípio não havia nenhuma vaga, mas lá estava o Seu Manoel que veio vindo ao meu encontro. Ele falou para eu parar o carro ali, pegou minha chave e disse que estacionaria melhor o dele, para conseguir espaço para o meu. O Seu Manoel sempre sorrindo, com aquela simpatia e prontidão naturais, já motivava a atividade da corrida que viria a seguir! Só fiquei chateada por ter esquecido de levar um amendoim e algum refresco pra ele.

Enfim cheguei ao portão 5 e lá estava meu primo: "Olha quem eu encontrei aqui e não deixei ir embora pra te ver?!" Era o pai dele - meu tio e padrinho - que àquelas horas já havia terminado sua corrida. Pude, finalmente, dar-lhe um abraço de aniversário, que estava guardado há quase um mês, - o parabéns tinha sido só pelo telefone. Mesmo que rapidinho, era bom matar saudade.

Então, eu e o Rafa começamos a correr. Os 7km que eu deveria fazer em ritmo leve viraram 8, pois eu nem me dei conta do passar do tempo e da distância percorrida. Era tão bom ter meu primo ali perto, depois de tanto tempo que eu estive longe de casa! Tão bom poder compartilhar ideias e uma mesma atividade! Fiquei muito grata por ele ter sido meu companheiro naquela corrida, abdicando de correr no seu ritmo, para correr ao meu lado.

Depois tivemos 4 tiros de 1km e nessa hora ficamos mais quietos, mas suas palavras encorajadoras me ajudaram a buscar a força que já existia em mim, para correr mais forte. O incentivo de fora, junto com nossa vontade, nos leva mais longe.

Contávamos com 12km e o Rafa precisou ir embora. Eu ainda tinha mais 2km, mas decidi que como já estava lá mesmo, faria mais 3, pra completar 15km. Liguei a música, que seria a minha próxima companheira, e fui correndo.

Chegando perto da Marquise, ouço: "Boa corrida, moça bonita!" Para minha surpresa, não era nenhuma pessoa conhecida, mas uma menina que pedalava sua bicicleta tão livremente e feliz, que deve ter decidido espalhar alegria, por meio de elogios e encorajamentos.

Ainda cruzei com um menininho que vinha com o skate em minha direção. Tanto eu como ele diminuímos a velocidade, e ele pediu: "Deculpa moça!" Foi tão educadinho que nem tinha como não sorrir e encarar a situação como uma delicadeza, apesar do quase atropelo.

Fui chegando ao final dos 15km, mas ainda não estava perto do portão. Por isso, resolvi colocar mais 1km na conta. Terminei feliz da vida e com sede.

Junto à grade, voltando pra pegar o carro, fui pedir um côco ao Seu Luís, mas ele disse que estava sem, e que se soubesse que eu queria, tinha mandado buscar pra mim, mais cedo! Ah, nem importava... Ele sempre oferecia, e só por sua atenção, me senti presenteada da mesma forma.

Fazia tempo que eu não corria 16km, mas a minha felicidade não era apenas por essa distância alcançada. A manhã inteira eu havia recebido amor, em suas cinco diferentes linguagens, conforme Gary Chapman. (Aliás, adorei o livro dele!) A mordida do gato e o abraço do meu tio eram toque físico. A ajuda do Seu Manoel para estacionar o carro, representava ato de serviço. A companhia do meu primo foi tempo de qualidade. O incentivo dele durante os tiros, o elogio espontâneo da menina e as desculpas sinceras do menino foram palavras de afirmação. O "potencial" côco  do Seu Luís seria presente. Eu só podia ser mesmo muito grata. 

E daí que, pensando em tudo isso, compreendi ainda melhor a minha ligação com a corrida. Desde pequena, a corrida representava um momento compartilhado com minha família. E deve ter sido assim que lhe associei com o valor de amor. Amor ao próximo e amor próprio! A corrida, pra mim, é uma atividade de amor.