Cá estou correndo na terrinha, entre uma burocracia e um passeio, entre uma faxina e um supermercado, entre uma chuva e um sol...
Mariana Passos, minha amiga lisboeta que vive em São Paulo, disse que dia 05/10 haveria maratona e meia aqui. E essa é uma da série Rock'n Roll. Meu pai correu uma dessas em San Diego, na Califórnia. A organização é muito boa! Mas, eu não estou treinando tanto para correr 21km agora...
Foi então que meu amigo João Xavier me deu a dica da corrida "Lisboa Corre Pela Paz". 10km, no próximo domingo, dia 28/09. A inscrição: 5€. Incrível! Eu me inscrevi facilmente pela internet, mas para pagar havia um número NIB, e como eu ainda não tenho conta bancária aqui, não conseguiria fazer a transferência para aquela conta com o número de referência. Precisei pedir ajuda... Paguei os 5€ ao João, que fez a transferência para mim. Daí, só precisei mandar por email o comprovante de pagamento e eles me responderam confirmando a inscrição e terminando com "saudações desportivas"! :)
Bem, ainda estou me adaptando a correr aqui. Sinto falta do Parque Ibirapuera... Mas ontem fiz uma corrida bem gostosa. Saí correndo de casa. (E aqui é bem comum as pessoas correrem na rua). Fui até a Av. Liberdade, desci a Rua Augusta e cruzei a Praça do Comércio (lá no Terreiro do Paço). Ali cheguei a beira do Tejo, onde corri mais um pouco até virar e fazer o caminho de volta.
Na beira do rio eu percebi que haviam palavras escritas em letras grandes. Era difícil de ler tudo correndo, mas logo reconheci os versos de Alberto Caeiro:
"Pelo Tejo Vai-se para o Mundo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele."
(Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XX"
Heterônimo de Fernando Pessoa)
A corrida deixou de ser apenas atividade física...
E na beira do Tejo, um turista fazia um vídeo da cidade no qual acredito que eu tenha aparecido correndo... E foi assim, no cruzamento de ruas e avenidas de Lisboa, que me senti um pouco parte do cenário daqui, inserida na vida daqui...
E de repente, num paradoxo aparente, correndo, a gente começa a se fixar.
A corrida deixou de ser apenas atividade física...
E na beira do Tejo, um turista fazia um vídeo da cidade no qual acredito que eu tenha aparecido correndo... E foi assim, no cruzamento de ruas e avenidas de Lisboa, que me senti um pouco parte do cenário daqui, inserida na vida daqui...
E de repente, num paradoxo aparente, correndo, a gente começa a se fixar.