quinta-feira, 10 de novembro de 2016

As cinco linguagens do amor numa corrida

                  Acordei com o gato mordendo meu tornozelo e caminhando pela cama, a ronronar perto de mim. A mordida doeu um pouco, mas acordar com o carinho dele era melhor que com o despertador.

Estava terminando de comer os ovos com queijo e recebi mensagem do meu primo, que ainda não havia ido correr e topou ir comigo. Combinamos de encontrar no portão 5 do parque Ibirapuera. Já fiquei mais animada porque teria companhia.

Cheguei na ruazinha onde quase sempre estacionamos, e a princípio não havia nenhuma vaga, mas lá estava o Seu Manoel que veio vindo ao meu encontro. Ele falou para eu parar o carro ali, pegou minha chave e disse que estacionaria melhor o dele, para conseguir espaço para o meu. O Seu Manoel sempre sorrindo, com aquela simpatia e prontidão naturais, já motivava a atividade da corrida que viria a seguir! Só fiquei chateada por ter esquecido de levar um amendoim e algum refresco pra ele.

Enfim cheguei ao portão 5 e lá estava meu primo: "Olha quem eu encontrei aqui e não deixei ir embora pra te ver?!" Era o pai dele - meu tio e padrinho - que àquelas horas já havia terminado sua corrida. Pude, finalmente, dar-lhe um abraço de aniversário, que estava guardado há quase um mês, - o parabéns tinha sido só pelo telefone. Mesmo que rapidinho, era bom matar saudade.

Então, eu e o Rafa começamos a correr. Os 7km que eu deveria fazer em ritmo leve viraram 8, pois eu nem me dei conta do passar do tempo e da distância percorrida. Era tão bom ter meu primo ali perto, depois de tanto tempo que eu estive longe de casa! Tão bom poder compartilhar ideias e uma mesma atividade! Fiquei muito grata por ele ter sido meu companheiro naquela corrida, abdicando de correr no seu ritmo, para correr ao meu lado.

Depois tivemos 4 tiros de 1km e nessa hora ficamos mais quietos, mas suas palavras encorajadoras me ajudaram a buscar a força que já existia em mim, para correr mais forte. O incentivo de fora, junto com nossa vontade, nos leva mais longe.

Contávamos com 12km e o Rafa precisou ir embora. Eu ainda tinha mais 2km, mas decidi que como já estava lá mesmo, faria mais 3, pra completar 15km. Liguei a música, que seria a minha próxima companheira, e fui correndo.

Chegando perto da Marquise, ouço: "Boa corrida, moça bonita!" Para minha surpresa, não era nenhuma pessoa conhecida, mas uma menina que pedalava sua bicicleta tão livremente e feliz, que deve ter decidido espalhar alegria, por meio de elogios e encorajamentos.

Ainda cruzei com um menininho que vinha com o skate em minha direção. Tanto eu como ele diminuímos a velocidade, e ele pediu: "Deculpa moça!" Foi tão educadinho que nem tinha como não sorrir e encarar a situação como uma delicadeza, apesar do quase atropelo.

Fui chegando ao final dos 15km, mas ainda não estava perto do portão. Por isso, resolvi colocar mais 1km na conta. Terminei feliz da vida e com sede.

Junto à grade, voltando pra pegar o carro, fui pedir um côco ao Seu Luís, mas ele disse que estava sem, e que se soubesse que eu queria, tinha mandado buscar pra mim, mais cedo! Ah, nem importava... Ele sempre oferecia, e só por sua atenção, me senti presenteada da mesma forma.

Fazia tempo que eu não corria 16km, mas a minha felicidade não era apenas por essa distância alcançada. A manhã inteira eu havia recebido amor, em suas cinco diferentes linguagens, conforme Gary Chapman. (Aliás, adorei o livro dele!) A mordida do gato e o abraço do meu tio eram toque físico. A ajuda do Seu Manoel para estacionar o carro, representava ato de serviço. A companhia do meu primo foi tempo de qualidade. O incentivo dele durante os tiros, o elogio espontâneo da menina e as desculpas sinceras do menino foram palavras de afirmação. O "potencial" côco  do Seu Luís seria presente. Eu só podia ser mesmo muito grata. 

E daí que, pensando em tudo isso, compreendi ainda melhor a minha ligação com a corrida. Desde pequena, a corrida representava um momento compartilhado com minha família. E deve ter sido assim que lhe associei com o valor de amor. Amor ao próximo e amor próprio! A corrida, pra mim, é uma atividade de amor.

7 comentários:

  1. Lindo, Má... É muito amor envolvido!! Sinto ele à distância. E, como vc diz: "por isso eu corro demais"!! Beijinhos da sua fã brasiliense-portuguesa.

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    1. Miii!!!
      Vc não sabe o quanto fiquei feliz de receber seu comentário aqui no blog!
      Saiba que é recíproco: sou sua fã e amiga, e sinto todo esse amor à distância!
      Obrigada por me encontrar e correr comigo na beira do Tejo, no Monsanto, no Jardim do Campo Grande, ou na passadeira ao lado - no Holmes Place! Ficam bons momentos de Lisboa e muita saudade de todo esse tempo de qualidade!
      Quem sabe correremos também no parque Ibirapuera em São Paulo, e no parque da cidade em Brasília?!
      Beijinho grande!

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  2. Ah, vou amar!!! Momentos únicos, seja com banho de chuva ou de lua. Vc me inspira, amiga, na corrida da vida. Saudade enorme!!!

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  3. Mary linda,
    Tudo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal e retorna em energia boa para o corpo e mente, e com isso as emoções são mais intensas. O afago do gato, a atenção do Sr. Manoel, o Pastorinho dos carros, a gentileza do Rafinha, o carinho do Zeu, enfim, num dia quase comum, depois de 16km bem corridos, tudo tem mais valor e gratidão e fez o teu dia ser mais feliz e inspirador!! Abraço Forte

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    1. Tia Lily!!!
      Mesmo longe, te sinto tão pertinho! Vc é das pessoas que mais admiro, que tenho como exemplo e inspiração, por sua forma de encarar e viver a vida!
      Obrigada pelas palavras de afirmação que vieram por aqui, completar esse dia!
      Beijos e saudade!

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  4. Falar o que da pessoa que melhor escreve ao meu coração, te amo Marina

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    1. Obrigada por ensinar toda nossa família a correr e pelo tempo de qualidade correndo ao meu lado hoje! Também te amo, pai!

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