sábado, 7 de setembro de 2013

O dia em que eu virei maratonista - parte 1

Acordei às 5h20 da manhã no tão esperado dia 25 de agosto de 2013. É verdade que eu já tinha acordado algumas vezes antes, mas, graças a Deus, não tinha passado a noite em claro.

Acordei sem sono, sem medo, ou traço de arrependimento. A ansiedade havia dado lugar para uma grande vontade de ir além. Uma vontade de conquistar.


Eu viajava com meus pais e tios. E naquela manhã, eu acordava num quarto de um castelo. – Para alguns momentos na vida, extravagâncias como essa valiam a pena. – Apesar disso, o castelo-hotel não servia café da manhã. Das nossas comprinhas do supermercado, comi pão com cream cheese + geleia e um pedaço de uma banana de casca vermelha. Tomei chá, preparado pela minha mãe, com a água quente da cafeteira do quarto.

Sem muita demora, vesti a roupa que eu escolhera com carinho: um short mais compridinho, para não causar atrito entre as pernas. Por cima dele, uma bermuda mais soltinha, que tinha um bolso de cada lado. (Eu precisava ter bolsos para guardar os géis de carboidrato.) Vesti o top que eu achava mais confortável e uma camiseta de manga curta e tecido levinho – ela era bonita e combinava com meu tênis rosa. Coloquei o relógio Garmin no pulso e o frequencímetro abaixo do top, por baixo do qual coloquei micropore e passei um “protetor” que serve como uma vaselina pra proteger do atrito, mas não é melecado (comprado na feira da maratona, no dia anterior).


Fui ao banheiro. Passei vaselina no pé, para não fazer bolhas. Coloquei uma meia grossinha para proteger bem e calcei meu Wave Sayonara. De repente, o pé começou a coçar! Arranquei a meia e coloquei uma mais fina. Ufa! Peguei uma camiseta de manga comprida para proteger do frio da manhã (depois a guardaria na mochila do meu pai que deixaríamos no guarda-volumes). Boné na cabeça. Protetor solar no rosto.

Nos bolsos, guardei 3 géis de raspberry da marca CLIF, que eu tinha gostado muito quando experimentei na meia maratona de Disney. Meu técnico Marcão havia dito que era a melhor marca! E como não encontramos no Brasil, compramos lá em Québec, na feira da maratona. Detalhe: na prova eles distribuiriam gel em alguns postos do percurso, mas eu preferi me garantir com aquele que eu já conhecia e gostava.

Era hora de sair. Meu pai e eu precisávamos chegar até às 7h00 na área de onde sairia a balsa para a cidade de Lévis. Depois da travessia, um ônibus nos levaria para o local da largada. Minha mãe iria em seguida , com meu tio, para outro ponto da cidade de Québec, de onde sairiam ônibus que os levariam para a largada da meia maratona (exatamente na  metade do mesmo percurso que  eu faria).

Caminhando com meu pai do hotel até a balsa, rezamos.

Adiante, avistamos nossos companheiros daquele desafio. Então, fomos nos juntar aos bons! Naquela manhã também haveria a corrida de 10 km e a de 21,1 km, mas os participantes dessas estavam em outros locais. Naquele pedacinho eu estava cercada de “gente grande” de todas as idades, corpos, nomes e rostos. Certamente, muitos deles eram “veteranos de guerra”. E eu estava lá para tentar uma vaga nesse time de resistentes.

Logo entramos na balsa. Fiquei com meu pai na parte de dentro, pra protegermos do vento gelado, e só saímos um pouquinho pra ver a linda paisagem. Do outro lado do rio estava o "nosso" castelo! (Não levamos máquina fotográfica, mas salvamos aquela vista panorâmica na nossa memória). Alguns corredores encontravam-se sozinhos; outros, com amigos ou familiares. Todos, porém, pareciam concentrados. A barca movia-se silenciosa. Eu, no meu ímpeto interno, queria conhecer todas aquelas pessoas e saber de suas histórias até ali. Mas também fiquei quietinha... Foi quando ouvimos alguém falando em português.
  
Dois amigos brasileiros. Marcio e Luis Gustavo. O Marcio também iria debutar na maratona. E como Brasil é Brasil, de repente já éramos antigos conhecidos. Sentamos do lado deles no ônibus. Chegamos num complexo fechado, que era um amplo saguão de hotel. Lá tinham grandes banheiros limpíssimos (muiiiito melhor do que se fossem banheiros químicos!). Pela primeira vez a fila das mulheres era menor. Isso se devia ao fato de estarmos em menor número (dos 1448 participantes, 1082 eram homens e 345, mulheres).

Ali no saguão também cruzamos com o Bruno Bueno, outro brasileiro que havíamos conhecido no dia anterior, na feira da maratona. (Aliás, hoje percorri a lista dos participantes desses 42,195 km de Québec e descobri que encontramos todos os outros 3 brasileiros inscritos ali!)

O frio começou a ir embora. Tirei a manga comprida, pra ir me aclimatando. Fomos procurar o guarda volumes. Era num caminhão estacionado do lado de fora. Saímos. A música que estava tocando começou a me contagiar! "We've come too far to give up who we are. So let's raise the bar and our cups to the stars. She's up all night 'til the sun. I'm up all night to get some. She's up all night for good fun. I'm up all night to get lucky"

Foi nesse embalo que se sucederam outras tantas músicas animadas. Eu queria viver aquele momento e nenhum outro! Tomei um pouco d'água que a organização tinha se encarregado de providenciar. A estrutura da prova era fantástica e eu estava super entusiasmada com aquela concentração inicial!

Ficamos conversando com nossos novos amigos, até que começou a contagem regressiva de minutos e fomos nos posicionar um pouco mais pra perto da largada. Meu pai tinha dito que correria essa maratona ao meu lado. Não queria lhe pedir isso, já que ele diminuiria muito o ritmo dele, mas confesso que fiquei feliz e isso me deu maior segurança.

Finalmente, às 8h30 da manhã, foi dado o tiro da largada. "BUM!" Começou. Eu estava ali, correndo a maratona, e isso era real.

(continua no próximo post...)

2 comentários:

  1. Grande MARINA, mais uma vez parabéns por ter completado a prova, eu (Marcio, seu amigo debutante maratonista) também completei a prova, foi ótimo e já me preparando para a próxima :). Nosso povo, comunicativo e cativante faz amizades com uma facilidade única, grande bj, abraço a todos e que você consiga PROVOCAR, MOTIVAR e ESTIMULAR muitas pessas a fazerem um "desafio" como este... COMPLETAR 42.195 m. QUE todos tenham este "sabor" :) :) :) :)

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    Respostas
    1. Marcio!!
      Muitíssimo obrigada!!
      Foi um prazer conhecê-lo!
      Parabéns pela sua primeira maratona!!
      Tivemos o privilégio de debutar numa maratona linda!! Não foi das mais fáceis, dada sua topografia, mas valeu cada quilômetro, né?!
      Em breve publicarei a parte 2 deste dia e vc pode me contar se tbm teve experiências semelhantes! :)
      Beijos!

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